O primeiro fim de semana de julho ficou marcado pelo regresso do simplesmente... Vinho – “o primeiro, e até agora único, salão português de vinhos, petiscos, arte e música”, como revela a organização.

O Refúgios & Petiscos esteve presente numa sessão exclusiva dedicada à imprensa e a profissionais da área vinícola, no dia 1, e teve a oportunidade de conhecer os 101 vignerons – portugueses e espanhóis – presentes no evento.

À entrada do jardim da Casa Cor de Rosa, na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), fomos convidados a embarcar numa experiência enológica. Recebemos um copo para eventuais provas e um catálogo oficial, com explicações detalhadas sobre a décima edição do simplesmente... Vinho.

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Ao ar livre – como meio de prevenção da COVID-19 –, participamos no chamado “salão off”, uma mostra de vinhos alternativa às grandes feiras que têm sido organizadas e que não se adequam a pequenos produtores e/ou vinhos “fora da caixa”, dado o custo, modo de comunicação e público-alvo.

Numa ligação à terra, às castas locais e com raízes na tradição, o salão, de cariz informal, desenvolveu-se em torno de pipas de vinho, todas elas identificadas com um número que foi atribuído a cada vigneron, que “está presente e dá a cara pelo que faz”, explica a organização.

O clima, que estava agradável, despertava para o convívio, não só com o espaço envolvente, mas também com os outros. Partilharam-se histórias e criaram-se redes de contactos, fez-se o chamado “networking”.  A vista para o rio Douro e as calçadas de pedra marcaram também presença na Faculdade de Arquitetura do Porto, espaço que foi escolhido a dedo.

Curiosos, aqueles que compraram o bilhete para o evento, faziam perguntas aos vignerons, sobre a produção de cada vinho, a sua história e tradição. No burburinho de fundo do certame, perante uma multidão de pessoas, ouvimos alguém comentar: “eu, por norma, venho com uma lista daquilo que quero conhecer. Por exemplo, trago escrito que vou visitar o produtor número 1, o 4 e por aí fora...” – afirmação que nos levou a crer que quem passa por esta exposição, quer sempre voltar.

Na mostra alternativa, conhecemos o Fernando Paiva, proprietário da Quinta da Palmirinha, assim designada em homenagem ao nome da sua mãe. Situa-se no vale do Sousa, no concelho de Felgueiras, e tem 3 hectares de superfície. Plantada com vinha desde 1994, tem certificação biológica desde 2004 e certificação biodinâmica desde 2008. Durante o simplesmente... Vinho, confessa que a questão que mais lhe foi colocada foi “tentar saber o que é que significava biodinâmica”. Ao Refúgios & Petiscos esclarece que “a agricultura biodinâmica é uma espécie de agricultura biológica”, mas com restrições relativamente ao fator produção – “bastante maiores do que aquelas que estão estabelecidas para o produto biológico”, salienta. Exige, por exemplo, a integração equilibrada dos três reinos, o animal, o vegetal e o mineral. Mas não só, requer ainda o respeito pelo ambiente, pelas pessoas que trabalham na quinta e pela qualidade dos produtos que chegam depois ao mercado.

Quinta da PalmirinhaQuinta da Palmirinha

 

Falamos também com João Tavares de Pina, o vigneron responsável pelo Rufia – ou talvez devamos nomeá-lo no plural, já que são cinco: o branco, o orange, o rosé, o clarete e o tinto. Descreve-os como sendo “vinhos desalinhados” por não seguirem as regras de enologia moderna, como “a adição de produtos antes da fermentação, as clarificações, as filtrações e estabilizações, e o afinamento em madeira”, enumera. Produzido artesanalmente por meio de técnicas ancestrais simples, o vinho tem um nome curioso, que não escapa a ninguém. O primeiro Rufia a surgir “foi um tinto de rufete bem rebelde”, desvenda João. Partindo do termo “rufete”, chegou facilmente à designação final de Rufia.

Ao Refúgios & Petiscos revelou o acompanhamento ideal para cada tipo de Rufia. Com o Branco aconselha um ceviche de robalo, enquanto o Orange é sugerido consumir com queijo dos Açores ou uma salada com figos e frutos de caroço. Para o rosé propõe as típicas Ameijoas à Bulhão Pato, para o Clarete um borrego assado e, por fim, para o Tinto recomenda um Pudim Abade de Priscos.

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Mas o simplesmente... Vinho não ficou por aqui. Ainda na sexta-feira, e também no sábado, a partir das 16h, serviram-se petiscos dos restaurantes Delicatum, de Braga, e Forneria de S. Pedro, da Afurada e da Póvoa de Varzim, que, segundo a organização, são “amigos do vinho”. No final do primeiro dia de evento, celebrou-se a cozinha de Vasco Coelho com o seu restaurante Semea by Euskalduna. Para o jantar pop-up, preparou um menu que juntou a novidade ao clássico, e que terminou com a sua célebre rabanada com gelado de queijo da serra.

O segundo dia do evento, 2 de julho, deu continuidade ao salão off, no qual os produtores de vinho proporcionaram “aos visitantes o contacto com sabores diferentes e uma outra forma e atitude de estar no mundo do vinho”, explicam. “Há um sentimento de partilha entre todos os vignerons que simplesmente... os une, há energia e sinergia, o feeling é um por todos e todos por um”, sublinha.

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O terceiro e último dia do simplesmente... Vinho ficou marcado pelo naturalmente... Brunch, o momento em que o vigneron Luís Soares Duarte – também agricultor, apicultor e pastor – fez um show cooking com produtos do Alto da Serra. Servido ao ar livre, no jardim da Casa Cor de Rosa, o brunch foi “100% biológico” e visou a promoção de alimentos portugueses e saudáveis.

 

Mas como não só de vinho se fez o evento, houve também muita arte à mistura. Com a exposição Paisagem e Arquitetura: da Vinha e do Vinho, viajou-se até à Ilha do Pico, às encostas da Madeira, aos vales no Douro vinhateiro e a outras regiões. Patente de 1 a 3 de julho, foi apresentada no Pavilhão Carlos Ramos da FAUP, um espaço que é obra do arquiteto português Álvaro Siza Vieira.

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O curador Karl Own trouxe, ainda, Entre Mito e Fábula, a Arte no Bosque, uma mostra de arte, que recuperou momentos e artistas dos últimos dez anos, como a Cláudia Brito, o Denis SPEKTOR, o Guilherme Monteiro e a Maria Cristina Valente, entre outros tantos.

Com a 1ª edição realizada em 2013, o simplesmente... Vinho é, até agora, o salão off – “muito informal, sério, mas simultaneamente relaxado”.

 

Por Juliana Silva